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Apresentando Patrícia Catarino Afonso e a pastelaria sem Glúten

 

 

“Sem Glúten Cake Design”, é um projecto de Patrícia Catarino Afonso que se dedica à arte da pastelaria de forma a que todas as pessoas possam apreciar os mais apetitosos bolos principalmente os intolerantes ao glúten e lactose, que muitas vezes só os conseguem apreciar com o olhar.

 

Este interessante projecto começou quando a própria Mestre pasteleira de 41 anos descobriu a sua intolerância à proteína do glúten, e com a sua persistência e criatividade consegue converter as receitas da pastelaria tradicional em “bolos para todos”.

 

Como “filho de peixe sabe nadar”, Patrícia é filha de um conceituado Chef de cozinha de Cascais e sempre acompanhou a carreira do seu pai na arte da confecção alimentar, o que a inspirou.

 

Patrícia após ter terminado o ensino secundário ingressou no mercado de trabalho na área da restauração e por aí se manteve durante 10 anos.

 

Entretanto quando havia festas, almoços ou jantares de amigos ela levava sempre um bolo. Com a excelência do seu trabalho foi desafiada para ser bloguer o que aceitou e evoluiu para a profissão que exerce actualmente, a pastelaria de bolos sem glúten.

 

Vamos conhecer a Patrícia e o seu projecto.

 

 

AMMA: A Patrícia já estava ligada à pastelaria antes de começar o projecto “Sem Glúten Cake Design”. O que mudou quando descobriu que também era celíaca e tinha que se adaptar a uma nova realidade?

 

Patrícia Catarino Afonso:Quando descobrimos que somos celíacos entramos num mundo completamente diferente, um mundo em que nos sentimos perdidos no início. Quase tudo o que existe no mercado tem glúten e exige da nossa parte uma leitura rigorosa dos rótulos e muita informação para aprender. Antes deste diagnóstico fazia bolos normais, agora só tive que os adaptar ao meu mundo sem glúten.

 

AMMA: De que tipo de doces é composto o seu portefólio?

 

PCA:  Desde bolos de casamento, bolos para festas, até bolachinhas para um simples chá com amigas. E eu estou sempre a testar novas receitas e a abrir o leque de variedade. Um celíaco sente falta daqueles doces que comia antes mas agora não pode por causa da doença. Basicamente faço os bolos que os clientes me pedem.

 

AMMA: O que muda num bolo sem glúten? É muito diferente de um bolo da pastelaria tradicional?

 

PCA: Mudam as farinhas e todos os ingredientes que eventualmente possam conter glúten. Isso exige da minha parte um controlo rigoroso nesses produtos. Para lhe dar um exemplo, para um bolo faço uma mistura de três farinhas diferentes para obter a textura e a suavidade que a farinha com glúten proporciona. Em relação ao sabor são aprovados pelos meus amigos não celíacos; sem saberem estão a comer um bolo glúten free. E quando lhes conto, ficam agradavelmente surpreendidos.

 

AMMA: Esse processo de adaptação das receitas foi complicado e desafiante? Em que aspectos?

 

PCA: A farinha de trigo proporciona um bolo suave, perfeito. A adaptação no início foi complicada. Houve muitas experiências mal sucedidas. E foi por tentativa e erro que fui percebendo a química existente entre os diferentes ingredientes. 

 

AMMA: Qual foi a reacção dos seus clientes ao novo tipo de pastelaria que passou a fazer?

 

PCA: Eu tenho clientes celíacos, diabéticos, com alergias alimentares ou mesmo clientes Vegan e para eles seria complicado comer um bolo normal. E eu adapto as receitas a esses clientes. Já fiz bolos sem ovos ou sem açúcar e ficaram perfeitos. E esses clientes ficam mesmo felizes e fazem questão de me agradecer e recomendar.

 

AMMA: Nota-se alguma diferença no sabor e textura em relação à receita tradicional?

 

PCA: Segundo a opinião de quem os prova, não notam diferença nenhuma. Aliás quando me convidam para uma festa, eu levo sempre bolos e estes são sempre os primeiros a desaparecer. Há sempre aquela curiosidade de provar um bolo sem glúten e ver se é igual. E aprovam sempre.

 

AMMA: Fala-se muito dos perigos da contaminação cruzada, o que é e como se pode evitar que ela ocorra?

 

PCA:Contaminação cruzada é a transferência acidental de glúten para superfícies ou alimentos. Por exemplo, a quinoa é naturalmente isenta de glúten mas pode ter sido embalada numa fábrica onde embalam cereais que contém glúten. E aí ela fica contaminada com glúten e imprópria para consumo por parte de um celíaco. Outro exemplo prático de contaminação cruzada que não tem a ver com a pastelaria, podem ser as batatas fritas. A batata não tem glúten, mas se for frita num óleo que tenha sido utilizado para fritar por exemplo panados, as migalhas de pão ficam soltas no óleo e ao fritar a batata estamos sujeitos à contaminação cruzada. Na minha cozinha tudo é feito sem glúten e no ato da compra de produtos, faço questão de ler todos os rótulos para garantir que essa contaminação não exista de maneira nenhuma. Os meus clientes têm total confiança e segurança.

 

AMMA: O seu pai foi um conceituado Chef de cozinha de Cascais, ele influenciou-a na arte da confecção? Além de cozinheiro ele também fazia pastelaria e doçaria?

 

PCA: O meu pai, como chef de cozinha teve influência na minha escolha. Ele fazia doces em casa para as nossas festas. Aliás, a minha Tarte Algarvia e a Torta de Laranja são algumas das receitas que ele fazia e que eu guardei até hoje.

 

AMMA: Tem memórias dessa altura? Algo de curioso que nos queira contar? Uma peripécia…

 

PCA: Lembro-me de ter à volta de 5/6 anos e estar em cima de uma cadeira na mesa da cozinha a vê-lo fazer croquetes e rissóis. Ele deixava-me moldá-los e ensinava como fazer.  Quando anos mais tarde fui fazer por minha iniciativa, correu muito mal. Isto porque não sabia a receita, portanto, tive que ir aos apontamentos dele e aí já correu bem melhor.

 

AMMA: Ele deixou à família os seus apontamentos de forma que a Patrícia e os seus irmãos pudessem disfrutar do seu legado?

 

PCA: Sim todos temos livros e receitas que ele deixou e que vamos trocando entre nós. É uma forma de perpetuar a sua memória e fazer o que ele mais gostava: cozinhar.

 

AMMA: Na sua actividade utiliza muito os robots de cozinha. Eles ajudam a fazer uma parte do trabalho. Qual?

 

PCA: Para mim os robots de cozinha são essenciais, tenho dois e utilizo-os ao mesmo tempo às vezes. Ajudam-me a fazer molhos e cremes sem ter medo de os queimar, faço massas no ponto ideal e outras coisas que me poupam imenso tempo.

 

AMMA: Contudo o seu toque pessoal está lá sempre visível. Onde?

 

PCA: Faço muitas receitas “a olho” e por isso nunca faço dois bolos iguais. Às vezes ponho uma raspa de limão ou uma essência qualquer e fica logo diferente. E na decoração também, cada bolo é único e personalizado para o cliente e é aí que ponho o meu toque pessoal.

 

AMMA: Por curiosidade, qual a reacção habitual de um cliente quando recebe uma deliciosa encomenda pela primeira vez? Fica de olhos arregalados?

 

PCA: Normalmente tenho por hábito enviar uma foto do bolo para o cliente mesmo antes da entrega. A reação é muito boa. Mas quando veem o bolo ao vivo ficam de olhos arregalados, especialmente as crianças. E para mim a melhor recompensa que pode haver é o brilho nos olhos e a felicidade de uma criança celíaca ao ver o “seu bolo”. Valeu mesmo a pena todo o esforço e todas as horas gastas nesse bolo.

 

AMMA: O Projecto “Sem Glúten Cake Design” ajuda a superar a exclusão dos doentes celíacos e intolerantes ao glúten no acesso à tradicional pastelaria. Que projectos tem em mente para um futuro próximo? Esta Pandemia que estamos a atravessar trouxe-lhe novos ensinamentos e adaptação?

 

PCA: Sim se formos ver são poucas as opções para um celíaco. Eu por exemplo ando sempre com o meu kit de emergência (como lhe chamo) que é basicamente uma lancheira com comida sem glúten e que me acompanha para todo o lado. Com este projeto consigo proporcionar uma festa completamente isenta de glúten ou uns bolinhos para comer no dia a dia. Quanto a projetos tenho a longo prazo mas ainda é cedo para falar. Por enquanto o meu foco é aprimorar a pastelaria sem glúten com mais variedade de escolha para o cliente. Com esta pandemia vi a importância de se conseguir encontrar a opção sem glúten. Eu avisei os meus clientes que ia fazer uma pausa por tempo indeterminado enquanto durasse o covid-19. Mas as encomendas continuaram e tive mesmo que reabrir e continuar com as entregas. Eram momentos tão especiais que eu não consegui deixar passar. Também me coloquei à disposição para entregar pão e bolos para profissionais celíacos que estivessem na linha da frente. Acho que todos nós aprendemos alguma coisa nestes meses.

 

AMMA: Que mensagem quer deixar aos nossos leitores aos celíacos e não só?

 

PCA: Que sejam felizes. Para um celíaco felicidade é poder comer sem medo. E em cada cliente meu, fica um amigo. Partilhamos experiências em cada entrega e isso é muito bom. Trabalho com o coração e isso deixa-me feliz.

 

Texto: Pedro MF Mestre

Fotos: Patrícia Catarino Afonso

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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terça-feira, 19 de março de 2024 – 06:03:18

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