Mosaicos de Caminha

Desde pequenino que tenho uma atracção por mosaicos, fossem eles de chocolate, da “Lego”, os dos “quadradinhos” ou simplesmente os que decoravam a cozinha da minha avó. Gosto de mosaicos do mesmo modo que aprecio cabrito assado ou cozido à portuguesa, pronto!  Portanto está bom de ver, que teria de estar presente numa prova com uma denominação tão sugestiva: “Mosaicos de paisagens”.

Novo clube, um mapa já conhecido, num cenário com uma nuance paisagística perfeita (floresta, duna, rio, mar), fazia a receita ideal para dar início à nova época da modalidade. Os Amigos da Montanha de Barcelos, os ex-ACARF, tiveram o cuidado de nos proporcionar uma prova em que não houvesse que fazer qualquer reparo, tanto na parte técnica como em termos organizativos. O que não estariam à espera, era que uma outra iniciativa da modalidade, fosse adiada para esta data. Foi um revés, dado que limitou logo à partida a comparência de, pelo menos meia centena de atletas. Alguém com responsabilidades esteve desatento. Espero que isto não seja o prenúncio de situações menos agradáveis.

Assim, cerca de uma centena de atletas (os que se pôde arranjar), com o Monte de Santa Tecla no horizonte e a belíssima zona da foz do Rio Minho como terreno, deram o tiro de partida para mais um ano desportivo.

O espécie este ano está mais “antigo” e subiu de escalão…ou será que desceu? Depende da perspectiva, mas sinto que as novas alterações aos escalões só tiveram um objectivo: facilitar a vida à espécie de orientista. Arranjaram-me um percurso com menos metros e menor desnível, estes rapazes são mesmo “fixes”. O que não conseguiram foi parceiros, dado que apenas participaram três no meu escalão. Mas o mal foi geral. Escalões houveram que só tiveram um ou nenhum. Este cenário vai-se tornar repetitivo, infelizmente.

Foi um percurso mesmo ao meu jeito. O terreno era quase plano, uma zona de pinhal com vegetação rasteira e outra mais arenosa, com as já celebérrimas “suaves dunas”. A área pantanosa é que estava mesmo à maneira, sequinha de todo, para não complicar. Os 4.200 metros e 13 controlos foram percorridos em ritmo de início de temporada, não tendo os primeiros seis pontos causado qualquer problema. Mas na progressão para o sétimo, tive de fazer um desvio para evitar uma zona de vegetação bem densa, que por acaso nem constava do mapa (de geração espontânea?), e ao chegar a um caminho, entrei mais a norte do que inicialmente supus.

Para mal dos meus pecados, fui encontrar uma convenção da “pastoral juventude orientista”, visto que andavam naquele local uma meia dúzia de “jovens” à cata do mesmo ponto. Como tenho a mania que ainda sou um mocinho, juntei-me à expedição. Péssima opção, não parei para pensar, limitei-me a andar à nora tal qual a rapaziada, à procura da clareira certa. Este convívio com a malta mais nova “rendeu-me” três bons minutos de castigo.

Seguiram-se mais quatro pontos, cujo principal obstáculo foi a quantidade de arbustos que juncavam todo o terreno e dificultavam a corrida (???), parecendo até que estavam vivos, tal a facilidade com que se emaranhavam nos pés. E dei comigo na praia. Foi o bom e o bonito para me concentrar de novo, depois de observar todo aquele “maralhal” a deleitar-se nas ondas, a espreguiçar o esqueleto ao sol ou a construir “castelos” de areia.

Os veraneantes miravam-nos com aquele olhar de compaixão, mas simultaneamente de admiração, ao repararem que toda aquela gente totalmente vestida e calçada, a suar as estopinhas, mal lhes “passava cartão”, preocupando-se apenas em seguir um mapa e encontrar os seus “prismas”. Devemos ter sido considerados uns heróis ou…maluquinhos.

E esta ida ao mar, comprometeu ainda mais o desfecho final do espécie. Nos dois pontos marítimos, consegui perder cerca de cinco minutos, mas oxigenei os pulmões de maresia, que gerou o combustível ideal para as duas derradeiras pernadas. O resultado acabou por ser aceitável, mas quando constato o tempo gasto pelo “supersónico” Rui Antunes, 32 minutos e “pico”, fico pouco menos que siderado quando espreito para os meus lamentáveis “59,18” (quando tiver a sua idade quero ser como ele).

Mas esteve para acontecer um facto que poderia ter causado danos irreparáveis à orientação. Se eu tivesse estado presente no percurso de domingo, o mais provável é que fosse ao pódio! Não abram essa boca de espanto, pois já vos disse que só éramos três no escalão. O novo formato do regulamento de provas vai permitir, que por falta de quórum, um dia destes eu venha a ser premiado. E que modalidade se pode dar ao luxo de ter “uma espécie” no pódio? 


 

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