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O meu mapa (2) Lagoa de Santo André – simples e eficaz

Pensava que tinha resolvido airosamente a questão, quanto às minhas preferências cartográficas, mas tal não aconteceu. Depois de dormir sobre o assunto, achei que não respondi convenientemente àquilo que me foi solicitado, deixando-me algo desconfortável e decidi fazer uma derradeira tentativa.

Ao folhear pela enésima vez o acervo de mapas pessoal e já em desespero de causa, surgiu-me a solução num flash. - “Eh pá! Finalmente descobri o que procurava”. Confrontado com a prova onde dei início à competição propriamente dita, ficando completamente entregue aos meus imberbes azimutes, as lembranças afloraram em catadupa.

Não sei se sabem, mas eu e a minha mulher, durante quase uma época, formámos uma parelha de respeito nos escalões abertos. O momento da separação foi algo de marcante, que nos custou imenso (necessitámos de acompanhamento psicológico), representando um heróico acto de coragem, tendo sem dúvida, sido igualmente um passo de gigante, para atingirmos aquilo que hoje somos na Orientação (no melhor e no pior).

No final da época 2005/2006, após sete meses a perseguir “laranjinhas” em conjunto, tendo estado presentes em dezasseis eventos e realizado vinte e cinco percursos (sem tirar nem pôr), calcorreando terrenos das mais diversas características, decidimos participar individualmente no II Troféu de Santo André. Prova que decorreria, nas imediações da lagoa com o mesmo nome e que naquela altura pontuava para o longínquo Regional Sul. Facto a que não demos importância, não obstante pertencermos ao grupo de atletas da zona “nuorte”.

Como nos encontrávamos de férias no sotavento algarvio, foi necessário interrompê-las dois dias (à cautela, tínhamos levado o “kit-ori” na bagagem), reservar novo alojamento, percorrer 250 quilómetros para cima e outros tantos de regresso. Uma atitude de verdadeira inconsciência, que nos mexeu na “bolsa”…e de que maneira. Mas a paixão pela modalidade tolhia-nos o discernimento, embora nos aliviasse a alma.

Dado que ainda não estava federado, inscrevi-me no escalão Fácil Longo (o actual Prom3 ou OPT3), pois não dispunha (como hoje também não), de capacidade física e técnica para me abalançar a voos mais altos. Para a experiência que pretendia levar a cabo, qualquer percurso serviria na perfeição. O essencial era que me desenrascasse sozinho, o resto surgiria por acréscimo.

Acalentava a secreta esperança, que o mapa fosse bastante acessível (cansei-me de colher informação), em virtude de apresentar um desnível quase nulo, para uma zona arenosa de pinhal, típica do litoral alentejano, com uma rede de caminhos para além do razoável. Para meu conforto, a ausência de detalhes rochosos era um dado adquirido e a provável existência de alguns edifícios, aliada a uma profusão de objectos especiais, pressupunha uma orientação mais que segura. Uma variedade de elementos característicos básicos, tais como, ruínas, vedações, muros de terra, “chaparros”, escarpas, buracos e depressões, completavam (?) o cenário. O ideal para um debutante.

Apesar desta constatação motivadora, ao imaginar os imponderáveis que me poderiam apoquentar, fiquei num tal estado de ansiedade (saudades antecipadas da minha mulher, só podia), suando em bica, angustiado, todo tremelique, não me cabendo um feijão…nem dos pequeninos (para evitar que a coragem se esvaísse). Maleitas, que uns sonoros “bip” de partida não debelassem facilmente.

Então, no dia 24 de Junho de 2006 (por curiosa coincidência, dia do patrono da minha região), sob um chuvisco estival, foi de peito aberto à floresta, que iniciei o primeiro percurso a “solo” numa competição de Orientação - 4.000 metros, 15 controlos e 40 de desnível. Realizei o tempo de 48,20, batido apenas por um rapagão, com idade para ser meu filho, que registou menos seis minutos (um tal de Raul, que não tive o prazer de voltar a ver nestas andanças).

Efectuei um percurso engraçado, mas já nessa época, padecia da síndrome “ai se não fosse um ponto…”. Na realidade, apenas cometi um erro grave, que me penalizou precisamente em meia dúzia de minutos, quando não me apercebi duma “micro-reentrância”, em pleno leito de um fosso seco. Aqueles equívocos intoleráveis e aziagos, que me continuam a atormentar (desconfio que fazem parte do meu ADN).

No dia seguinte voltei ao local do crime, para despachar 3.800 metros e 14 balizas, gastando uns improváveis 38 minutos, numa prova de raiva e vingança, sem perdas significativas, que me proporcionou a primeira posição na etapa e no evento, todavia com um travo ligeiramente amargo.

Resultado interessante sem dúvida, mas que só foi possível, porque o moço do dia anterior, deve ter ido desbundar para a “night”, adormeceu e não partiu, permitindo inclusive que a minha mulher ascendesse ao terceiro lugar. Um pódio em família (devidamente testemunhado pelo presidente federativo, o supervisor da prova), que ofereceu a cereja que faltava para o bolo ficar perfeito (pouca e fraca concorrência, mas deu brilhozinho ao ego).

Decididamente, uma escolha acertada de um mapa cómodo e nada monótono, que acelerou uma decisão, que apenas pecou por tardia. Agora reconheço, que andei demasiado tempo de “braço dado” com a minha mulher. No entanto, não me arrependo de nada. Passei um período maravilhoso, onde desfrutei de forma intensa, algumas das delícias que esta actividade nos proporciona e que actualmente me passam despercebidas. No fundo, são as fases da evolução natural de um orientista, em que as prioridades vão alterando, de acordo com o seu “status” no seio da modalidade.

Aqueles que já tiveram oportunidade de o percorrer, com certeza concordam, que o mapa da Lagoa de Santo André se destaca pela simplicidade técnica, duma exigência muito ténue, o que permite à maior parte dos atletas reforçar o moral, porquanto conseguem nestes terrenos, prestações a roçar a excelência. No que me diz respeito, tudo não passou de uma providencial conjugação de vontades - o COALA ofereceu, eu aproveitei e o destino condescendeu.

Se porventura, este episódio descambasse para o torto, nem ouso imaginar qual teria sido o meu futuro na Orientação. Provavelmente, continuaria a “namorar” por entre cotas, prismas e moitas, fugindo da competição como o diabo da cruz. Assim, vou continuando a “chagá-los”, debitando as minhas “doutas” opiniões.
 

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025 – 21:14:35

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