Algo me dizia, que haveria de surgir o dia em que o “berdadeiro” terminaria uma prova plenamente satisfeito, sem qualquer “istória” para contar, nenhum “mp” para chorar e muito menos a existência de momentos de pastorícia ou de empenhados atascanços para lamentar. Mais! Não foi uma prova, mas sim um par delas e no mesmo fim-de-semana. Anormalmente histórico!
Os dias apresentaram-se simplesmente radiosos, com temperaturas amenas, convidativos para a prática de actividades físicas de contacto com a natureza. O cenário de parques e jardins, com os inerentes degraus, lagos, relvados, imensas sebes e arbustos, vistosas flores e uma surpreendente “micro-mata” impecavelmente limpa (polvilhada de simpáticas “pedrolas”), fornecia o toque ideal para os orientistas se galvanizarem e cometerem façanhas gloriosas.
As largas centenas de atletas presentes conferiam um alegre colorido e uma saudável algazarra, reflexo do Desporto Escolar se encontrar bem representado, por mais de três dezenas de escolas e os seus ruidosos, irreverentes e competitivos jovens. A mescla de federados, alunos, escalões abertos e participantes com limitação motora, resultou num grupo heterogéneo, mas todos imbuídos dum objectivo comum – desfrutar da excelência dos parques que lhes propuseram e encontrar os “laranjinhas” o mais rápido possível, de preferência sem esquecer nenhum, para evitar desgostos dispensáveis em jornadas tão aprazíveis.
Para compor ainda melhor o ramalhete, os percursos encontravam-se traçados na vertente de sprint, o que facilitava a vida ao “berdadeiro”, pois quanto menor for a distância a percorrer, menor será a probabilidade dele se equivocar (termo selecto para pastor de balizas). Perante uma realidade tão agradável, porque carga de água eu não deveria exceder as expectativas?
Apesar de estar previsto para o meu escalão a visita a apenas vinte e poucos pontos, em cada etapa, fiz questão de confirmar se os 110 controlos - que totalizavam as duas provas - estariam bem colocados. E não é que estavam um mimo? Mas desde já vos digo que não foi nenhuma promessa nem sacrifício, porque o gozo de conhecer todos os cantos e recantos dos mapas, suplanta qualquer contrariedade.
Neste momento, até consigo imaginar as vossas caras de espanto. Por esta não esperavam vocês, hem? – “Então ele afirma a sua felicidade por tudo lhe ter corrido às mil maravilhas e agora vem com esta conversa de loucos”? Certamente já estarão com a pulga atrás da orelha, conjecturando aquilo que efectivamente se passou.
O que aconteceu é que uma vez mais fui relegado para o outro lado da paliçada. Atribuíram ao meu Clube a responsabilidade de organizar duas competições distintas em dias consecutivos – II Justlog Park Race e 6ª Edição do Troféu de Orientação do Porto - e esse facto gerou ao “berdadeiro” uma disparidade de trabalhos na área organizativa, aspecto em que ele se desenrascou de forma airosa (opinião altamente subjectiva e tendenciosa). Se entenderam outro género de acontecimentos, isso apenas se deve a lapso na interpretação do texto (hehe!).
Dá-me raiva observar os meus parceiros de escalão a terminar a sua tarefa em menos de vinte minutos e eu a suar as estopinhas durante sete horas!!! Na verdade, ao integrar a Organização dos dois eventos, não tive outra alternativa que não fosse ajudar em tudo o que de necessário aparecesse, não obstante estar ligado a um sector específico. E podem crer que solicitações não faltaram, provocando um “lufa-lufa” cronometrado. O que valeu para atenuar a azia que me consumia os neurónios, foram os quarenta minutos terapêuticos na pontual função de monitor (acompanhei um quarteto de noviços), que me proporcionaram um intervalo relaxante.
No sábado montamos arraiais no Parque da Lavandeira e Estádio Municipal de Gaia (o sprint final na pista de tartan foi apoteótico). No dia seguinte fomos comemorar a “revolução dos cravos” para o Parque do Covelo, um oásis em pleno coração da cidade “inbicta”. Tanto um como outro são locais espectaculares para a prática da modalidade, sobretudo para quem estiver a dar os primeiros passos.
As condições existentes eram quase perfeitas, fazendo esquecer que se tratavam de provas regionais, com toda a panóplia logística concentrada na área das Arenas, onde pontificavam uma simpática “speaker”, revigorantes massagens e as reconfortantes “sandochas” e, não fora uma “traiçoeira” gafe informática na produção da sinalética, poderíamos ter brindado com champanhe ao enorme sucesso das duas iniciativas (assim, só deu para espumante). Não lembra ao diabo o que se passou (“trabalhinho” de alguma bruxa despeitada), mas acabamos por superar o problema, aproveitando o elevado fair-play dos atletas envolvidos.
O bom senso prevaleceu e ninguém se dispôs a estragar uma festa tão bonita, o que julgo ser uma decisão acertada, porque segundo a “crítica especializada”, a Organização esteve irrepreensível e não merecia semelhante castigo (quem ousar dizer o contrário, para o ano apanha com cartografia nórdica).