- Semana dourada para as irmãs vimaranenses no WTA 125 de Oeiras
- Jaime Faria foi eliminado nas meias-finais de singulares
Francisca Jorge e Matilde Jorge fizeram história para o ténis português ao tornarem-se nas primeiras jogadoras a vencerem um torneio do circuito WTA. As irmãs vimaranenses conquistaram o Oeiras Ladies Open e fecharam com tons de festa a penúltima jornada do torneio combinado que a Federação Portuguesa de Ténis organiza até este domingo no Complexo de Ténis do Jamor, em Oeiras.
Na semana de estreia a este nível, Francisca Jorge e Matilde Jorge selaram uma campanha dourada com uma vitória por 6-0 e 6-4 sobre a britânica Harriet Dart e a francesa Kristina Mladenovic, ex-número um mundial de pares e vencedora de 28 títulos de pares femininos ao mais alto nível, entre os quais seis em torneios do Grand Slam.
Tal como os três encontros anteriores, o deste sábado também foi decidido em dois sets. Fugindo à estratégia mais clara (optar sempre por pressionar Dart, a mais fraca das quatro na especialidade) com variações constantes, as duas irmãs naturais de Guimarães revelaram especial afinação na final mais importante das respetivas carreiras e venceram os seis pontos de ouro do encontro — quatro no segundo parcial e o último para converterem o match point.
Depois de 14 títulos lado a lado no circuito ITF, este foi o primeiro título em torneios do circuito WTA, onde nunca antes uma tenista portuguesa tinha chegado a uma decisão.
Para Francisca, a mais velha (celebra este domingo o 24.º aniversário), tratou-se do 26.º título na especialidade e vai levá-la ao 129.º lugar do ranking, a apenas seis degraus da melhor classificação da carreira; para Matilde, a mais nova (celebrou na semana passada o 20.º aniversário), foi o 17.º triunfo em provas internacionais e resultará numa subida ao 143.º posto, a 10 de igualar o melhor registo pessoal.
“Senti que jogámos a um bom nível durante toda a semana e que já na semana passada durante a Billie Jean King Cup o tínhamos feito”, explicou Matilde Jorge em conferência de imprensa. “Senti que em termos de nível este torneio foi mais ou menos semelhante a outros que já jogámos, simplesmente jogámos muito melhor.” Atenta, a irmã mais velha acrescentou que “fomos mais competentes esta semana porque tínhamos o chip de que precisávamos de jogar bem em todos os pontos, de não dar borlas e acho que conseguimos fazer isso muito bem. Foi por aí que conseguimos ganhar vantagem ao longo dos encontros.”
A vitória na competição de pares colocou a cereja no topo do bolo de uma semana que já estava a ser inesquecível, pois o WTA 125 de Oeiras assinalou a estreia de ambas em provas sob a sanção da Women’s Tennis Association e quer Francisca, quer Matilde alcançaram os quartos de final na prova de singulares.
Jaime Faria também esteve perto de viver mais um dia feliz, mas ficou a dois pontos de escrever mais história pessoal: a jogar pela primeira vez na carreira as meias-finais de uma prova Challenger (e logo na categoria 125), o jovem de 20 anos liderou por 7-5 e 6-5 e nesse jogo de resposta esteve por duas vezes (a 15-30 e a 30-30) a dois pontos de derrotar Francisco Comesana (115.º classificado no ranking e quarto cabeça de série).
Mas acabou por ser o argentino a celebrar, com uma recuperação à tangente na segunda partida a dar-lhe o embalo necessário para consumar a reviravolta em 2h20 com os parciais de 5-7, 7-6(4) e 6-0.
“Faltou um bocadinho mais de determinação e um bocadinho mais de coragem em alguns momentos importantes em que estava à frente. Ele teve mérito na maneira como virou o encontro, mas faltou-me determinação e coragem”, sublinhou o atleta do Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis na última análise da semana.
Um dos momentos marcantes do encontro deu-se ao 3-0 do segundo set, quando Comesana sentiu uma dor na anca e pediu uma assistência que deu origem a uma pausa de sensivelmente cinco minutos no encontro. Apesar disso, Faria descartou qualquer maldade por parte do adversário argentino, mas reconheceu que não lidou com esse momento da melhor forma.
A campanha no Oeiras Open 125 vai refletir-se na atualização do ranking de segunda-feira, dia em que o jovem português voltará a celebrar o melhor ranking da carreira com uma subida ao 230.º lugar (começou a época no 411.º).
Essa classificação não será suficiente para ficar descansado em relação ao ambicionado apuramento para o qualifying de Roland-Garros, onde deseja estrear-se em torneios do Grand Slam, mas no até já ao Jamor — onde voltará a competir dentro de três semanas — adiantou que fará a viagem até Paris, até porque deverá ficar a poucos lugares de poder entrar na sequência das habituais movimentações de última hora.
Melhor classificado da prova desde que os quartos de final ficaram definidos, Comesana terá na final de domingo a oportunidade de selar a estreia no top 100, tal como Carlos Alcaraz fez há três anos, na primeira edição deste torneio como ATP Challenger 125.
A sétima final do argentino a este nível (venceu quatro das anteriores, todas elas em terra batida) será contra Ugo Blanchet. O francês (192.º) levou a melhor contra o compatriota Valentin Royer (262.º) por esclarecedores 6-4 e 6-2 em apenas 81 minutos e colocou-se a um triunfo de conquistar o título mais importante da carreira, seis meses depois de ter inaugurado, em Málaga, o palmarés a este nível.
A final entre Comesana e Blanchet foi agendada para as 11h30, mas só começará a essa hora se já estiver concluída a decisão individual do Oeiras Ladies Open, com início previsto para as 10h.
As protagonistas da final de singulares mais importante do ténis feminino em Portugal nos últimos 10 anos serão Clara Tauson (87.ª WTA e ex-33.ª) e Suzan Lamens (163.ª).
A dinamarquesa nem precisou de entrar em campo para avançar, dado que logo pela manhã foi informada da desistência de Bernarda Pera. A norte-americana (82.ª classificada de um ranking em que já esteve na 27.ª posição) lesionou-se no pescoço durante o aquecimento e desfalcou aquele que era o encontro com maior impacto mediático além-fronteiras desta jornada.
Já a belga recuperou da desvantagem de um set (o primeiro que perdeu em toda a semana) para vencer a francesa Kristina Mladenovic (252.ª e ex-top 10) por 4-6, 6-0 e 6-0, parciais que lhe valeram a presença na final mais importante da carreira.
Curiosamente, quer Tauson, quer Lamens chegaram a Portugal há duas semanas para defenderem as cores dos respetivos países no Grupo I da Billie Jean King Cup by Gainbridge. E ambas foram determinantes para as promoções das respetivas nações, assinando resultados semelhantes (Tauson venceu uma top 10, Maria Sakkari; Lamens derrotou outra jogadora do mesmo grupo, Jelena Ostapenko).
Mais nova (21 anos), Tauson parte como favorita para uma final que lhe pode valer o 15.º título individual da carreira (tem dois da categoria WTA 250) e o segundo em Portugal, aproximadamente quatro anos após ter ganho, no Clube Escola de Ténis de Oeiras, o primeiro torneio do circuito mundial feminino a ter acontecido depois da paragem causada pela pandemia. Lamens (24 anos), que reconheceu ser a underdog, persegue o sétimo título do palmarés, segundo da época (no início de março venceu um ITF W75 em Trnava como qualifier) e primeiro sob a chancela WTA.
Fotografias: Sara Falcão/Federação Portuguesa de Ténis