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Após um forçado interregno de dois anos, voltou-se a celebrar o dia da Marinha do Tejo com a cerimónia oficial no Cais da Marinha em Lisboa, seguido de desfile náutico nas embarcações típicas do
Tejo, para a Base Naval de Lisboa no Alfeite para um almoço de convívio e visita a dois navios da Marinha.
Ao aproximar da Doca da Marinha tivemos logo a amável recepção do Mestre João Gregório que fez questão de nos explicar o que os nossos olhos viam e admiravam: as embarcações ali atracadas. Estavam lá catraios, canoas, botes e varinos.
O catraio é uma embarcação até 6 metros, com casco arredondado, proa direita e tem uma quilha, é o mais pequeno deles. Com as mesmas características mas dos 6 aos 12 metros temos a canoa, ou seja tem casco arredondado, quilha e proa direita. Já a partir dos 12 metros deixa de ser canoa para ser bote. Tem o mesmo tipo de casco e o pormenor dos cabeços. A canoa e o catraio têm dois cabeços, o bote já tem quatro à proa e quatro à popa totalizando oito. Quanto às cintas pretas no casco, o catraio e a canoa têm uma, o bote tem duas. A partir dos 15 metros temos a fragata com um casco mais robusto e mantém a proa direita. Enquanto o bote tem os efeitos dos barbados em redondo (pintura de flores em linha na parte de cima da embarcação), a fragata tem a direito. Houve em tempos a falua, a mais elegante, com dois mastros, contudo já não existe nenhuma. Quanto às velas dos catraios, canoas e botes podemos ter a latina como a redonda. Por último temos o varino que é uma embarcação que faz a diferença relativamente aos restantes. É um barco que tem um fundo mais curto e sem quilha que foi construído para conseguir ir às partes menos profundas do rio Tejo e tem proa redonda. O seu casco é todo pintado de preto com um produto construído por dois componentes aquecidos e que era barrado no barco com uma ferramenta que também já não existe à venda baseada num cabo de vassoura e no topo uma pele de carneiro, isto para barrar o líquido na embarcação. A pele de carneiro aguenta essas altas temperaturas. Era um trabalho doloroso daí que hoje em dia já não seja usado. Tudo isto para que desse mais resistência e duração do casco da embarcação.
A Charanga Huga Rosário animou musicalmente os momentos antes do início da cerimónia e marcou o fecho da mesma tocando o hino nacional, assim como vários momentos do dia com os seus temas. Chegaram de canoa e de canoa foram para a Base Naval de Lisboa, sempre com boa música e animação, algo já típico desta formação musical.
Após a chegada dos convidados e das individualidades presentes na cerimónia Paulo Andrade da direcção da Marinha do Tejo abre a sessão com o enquadramento às embarcações típicas do Tejo cuja missão era o transporte de pessoas e bens. Conta-se que em 1520 houvesse 3600 embarcações entre Vila Velha de Ródão e a foz. De Alcochete até à foz eram cerca de 2200. Hoje as que temos são graças ao trabalho dos proprietários e arrais que têm mantido a tradição nos últimos 50 anos. Este ano atingiram no livro de registos a flotilha de 85 embarcações inscritas entrando a “Muleta” da Câmara Municipal do Barreiro, uma embarcação à vela de pesca de arrasto que já não existia e foi recriada uma réplica e em breve poderá ser vista a navegar mais um elemento do polo vivo do Museu de Marinha.
Esteve presente o Almirante Bastos Ribeiro em representação do Chefe do Estado-Maior da Armada, Carlos Moedas presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre outras individualidades.
O Almirante Bastos Ribeiro fala da parte cultural da Marinha e o Museu de Marinha tendo uma forte ligação à Marinha do Tejo, através do despacho do Governo oficializado no Dia Europeu do Mar em 2008 tendo a Marinha do Tejo como polo vivo do Museu de Marinha, isto a 28 de Junho desse ano no Cais da Moita, tendo o livro de registos sido assinado por todos os arrais e proprietários ali presentes. É um trabalho dedicado de muitas pessoas e entidades dos mais variados sectores.
Congratula todos os que têm contribuído pelo caminho que tem sido percorrido sendo a Marinha mais um parceiro no processo.
O Museu de Marinha desde os anos 40 do século XX deixou de manter exclusivas as peças da Marinha de Guerra, passou a ser um Museu Marítimo Português incluindo peças, modelos, fotos, entre outros elementos de embarcações de todo o país.
A cerimónia da assinatura do livro de Registos da Marinha do Tejo, a guarda do qual está confiada ao Museu de Marinha, é feita pelos proprietários e arrais das embarcações do Tejo, que confirma o compromisso de fazer parte do polo vivo do Museu de Marinha e que todos os anos se repete.
De seguida Carlos Moedas saúda os presentes, de forma especial os fundadores da Marinha do Tejo ali presentes, tais como o Prof. Carvalho Rodrigues e o Almirante Castanho Paes. Invoca a importância que o Tejo tem para Lisboa, para as pessoas, para a cultura e história dos portugueses. Assim como a actividade comercial, lúdica e desportiva que por ele passa. Deixa uma palavra de apreço e estima à Marinha do Tejo, associação privada, filantropa um Museu vivo de Marinha, constituído pelas suas embarcações inserida no seu Livro de Registos.
Falou ainda de vários projectos que pretende implementar em Lisboa relativos ao Tejo, de forma especial para a Doca de Pedrouços, a promoção do desporto ao ar livre e as actividades náuticas desportivas.
Depois dos discursos seguiu-se a assinatura do Livro de Registos dos arrais e proprietários das embarcações típicas do Tejo.
Após esse momento, o Prof. Fernando Carvalho Rodrigues tomou a palavra com os seus comentários, memórias e curiosidades que maravilham toda a audiência, assim como os seus respectivos agradecimentos.
Houve também a oferta do livro “Fragateiros do Tejo” e uma edição de 8 DVDs com “As memórias de fragateiro” pelo editor da Orfeu ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e ao director da Comissão Cultural da Marinha com o pedido da divulgação dos conteúdos na Internet para que possam chegar a todos.
Foi relembrada a proeza da Marinha que conseguiu a vitória, perante as invasões francesas, rumando pelo Tejo acima utilizando as silenciosas canoas, com peças de guerra disparadas a partir delas contra o inimigo desprevenido, que em conjunto com as Linhas de Torres fizeram recuar as tropas de opostas.
Houve a oferta de artes, ao Prof. Carvalho Rodrigues, à Marinha do Tejo e uma pintura com o poema de Fernando Pessoa “Sacadura Cabral” à sobrinha-neta do cabo-artilheiro-mecânico Pinto Correia que acompanhava Sacadura Cabral, para a sua família. A pintura da autoria de Luís Filipe (Rock) a partir de uma peça de madeira de uma canoa do Mestre João Gregório.
Os fotógrafos mais activos no enriquecimento do acervo fotográfico das actividades da Marinha do Tejo receberam um diploma de agradecimento ao seu trabalho Pro Bonu
Após a cerimónia, fez-se o embarque e em desfile náutico rumou-se à Base Naval de Lisboa para o almoço-convívio dos participantes, com a respectiva e tradicional sardinhada e grelhados, com os acompanhamentos, entradas, sobremesas e o bolo comemorativo.
No final do almoço a Marinha proporcionou a visita ao NRP Sagres e ao NRP Viana do Castelo.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: José Carlos Pinto e Pedro MF Mestre
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Fotos de José Carlos Pinto
Fotos de Pedro MF Mestre
Fotos de Pedro MF Mestre