Fernando Carreira está nesta Nobre Modalidade à 35 anos. Durante esse tempo passou por diversos cargos, foi Wrestler, Treinador de vários Clubes e Dirigente Desportivo. Iniciou a modalidade no Norte do País, como Wrestler, mas como os tempos eram outros, rapidamente subiu na escala e começou a administrar treinos noutros Clubes. A sua Carreira Desportiva é mais notória como Treinador, foi um Wrestler mediano, mas é uma fera como Treinador. Por todos os Clubes que passou deixou Campeões e Saudades. Na Década passada de 2001 a 2010, deixou o seu útimo clube, o Grupo Desportivo e Cultural do Conde2, no 3º posto do Ranking Nacional com mais Campeões Nacionais das 3 vertentes da modalidade, participou também no Campeonato Nacional por Equipas e classificou-se em 4º Lugar em 2006. Na nova Década e Época, iniciou dois Projectos bastante motivadores, abraçou a Sociedade de Cultura e Recreio 1º Agosto Paivense como Técnico e a Associação de Lutas Amadoras do Distrito de Setúbal como Presidente da Direcção. Conheça melhor o percurso de Fernando Carreira, nas Lutas Olímpicas.
Mundo da Luta Olímpica – Como e onde iniciou a modalidade? O que o levou a optar pela modalidade?
Fernando Carreira – Eventualmente a maioria das pessoas que me conhecem sabem que eu fui criado na Obra do Padre Grilo em Matosinhos, uma instituição de apoio a jovens carenciados e de famílias desajustadas com dificuldades financeiras.
Estávamos sensivelmente em Março do ano de 1976, quando no colégio nos informaram que iria decorrer naquele dia uma demonstração de Lutas Olímpicas.
Nunca tinha ouvido falar em tal modalidade desportiva, apesar de ser “moda” naquela altura e recordistas de bilheteira, filmes da modalidade de Kung-fu. Imaginei qualquer coisa do género mas rapidamente compreendi que esta modalidade era muito mais cativante e atractiva pelos movimentos e diversidade de técnicas. A demonstração foi-nos dada pelo mestre Octávio Silva que viria a ser o Director Técnico Regional da Zona Norte.
Rapidamente me interessei pela Luta Olímpica e, pelas aptidões demonstradas, logo de muito cedo fui encarregue de monitorizar os treinos naquela instituição.
Comecei a frequentar as Acções de Formação dadas pela Federação Portuguesa de Lutas Amadoras, através de Estágios no Porto, Lisboa, Guarda e em Coimbra pelo então Director Técnico Nacional, Mestre Orlando Gonçalves.
Surgiram as primeiras competições do Calendário Nacional em Lisboa e para participarmos íamos numa Ford Transit de 9 lugares, ás 6H30 da manhã, as Pesagem eram só ás 14H00, fazíamos a competição e regressávamos no mesmo dia para Matosinhos, sem antes e, recordo com satisfação, pararmos em Pombal para comer um arroz de feijão com pataniscas no “Manjar do Marquês”, para chegarmos ao destino bem depois das 2 da manhã.
MLO – Descreva a sua carreira como Lutador.
FC – Fui atleta já com 16 anos e muito cedo me foram confiadas funções de monitor e mais tarde de Treinador e ainda de Membro Fundador da Associação de Lutas Amadoras do Porto.
Era jovem, e com 18 anos já era trabalhador por conta de outrem, estudava, praticava, dava treinos e ainda me “sobrava” tempo. (!)
Estávamos no ano de 1981 e o Mestre Orlando Gonçalves estava a treinar o Sport Lisboa e Benfica. Fui convidado a ingressar na equipa daquele grande clube aonde por lá fiquei 7 épocas. Fui um atleta mediano, sempre disponível e valoroso, ajudando o Benfica a conquistar diversos Troféus.
A nível individual fui atleta da Selecção Nacional e conquistei alguns Títulos Nacionais e participei em algumas Provas Internacionais. No entanto a minha carreira de atleta foi sempre dividida com as funções de Treinador, o que me trouxe algumas dificuldades de progressão.
MLO – Que cargos desempenhou nas Lutas?
FC – Como já referi fui Membro Fundador da ALAP (Associação de Lutas Amadoras do Porto) e, integrado nos Núcleos de Desenvolvimento das Lutas Amadoras da Direcção Geral dos Desportos, fui Coordenador Regional para a modalidade no Distrito do Porto. Agora sou presidente da direcção da Associação de Lutas Amadoras do Distrito de Setúbal.
MLO – Como treinador, quais foram os clubes que treinou? Já agora quais os seus Lutadores que destaca.
FC – Tive influência directa no desenvolvimento das Lutas Amadoras no Porto, no fim da década de 70, treinando o Clube de Luta do Padre Grilo, em Matosinhos, a Tuna Musical de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, a Associação de Moradores da Pasteleira e as Oficinas de São José no Porto.
Em Lisboa fui requisitado para abrir uma secção de luta no Atlético Clube do Cacém e mais tarde para treinar o Grupo Desportivo da Mouraria.
Esta última colectividade trouxe-me imensas alegrias, não só pela sua tradição bairrista como pelo grande número de atletas que consegui treinar. Já nesta altura organizei sozinho e com sucesso, um Torneio Internacional (com a equipa de San Ignácio de Espanha que venceu a competição) pelos festejos de um aniversário do GD Mouraria. Nessa altura tive a sorte de iniciar a carreira dos atletas, mais tarde internacionais, Paulo Antão e Luís Fontes, assim como Alfredo Correia e Pedro Moreira.
Depois, por razões pessoais e de valorização profissional e académica, estive afastado das lides da Luta durante 10 anos.
Regressei no ano de 2000 para treinar o Grupo Desportivo e Cultural do Conde 2, na Quinta do Conde, em Sesimbra, aonde por lá fiquei durante 8 anos. Foram de facto os meus melhores anos ligados á Luta, graças também á excelente Direcção que conduz aquela colectividade. Sempre me abriram as portas e me deram quase todas as condições para desenvolver um trabalho exemplar. Consegui um núcleo “duro” de atletas que sempre me acompanharam naqueles anos. Tive um índice de abandono extremamente baixo. Conquistei um elo de amizades indescritíveis até hoje. Conseguimos um notável número de êxitos e reconhecimentos. Fizemos milhares de quilómetros juntos em Portugal e além fronteiras. Os atletas Rui Silva e Liliana Santos representaram Portugal em Campeonatos Europeus. Outros tantos atletas foram chamados á Selecção Nacional. Durante os anos de 2000 e 2010, o GDCC2 conseguiu o terceiro maior número de Campeões Nacionais.
Claro que tenho que reconhecer que a melhor atleta da actualidade é a Liliana Santos e que eu tive um grande contributo para que isso acontecesse. Fui eu que lhe ensinei os primeiros passos em cima o tapete, tinha ela 12 anos. Curiosamente ela perdeu o primeiro combate oficial que fez. Isso não voltou a acontecer em Portugal. É uma atleta ainda em desenvolvimento e de muita progressão.
No ano de 2011, iniciei um novo projecto na Sociedade de Cultura e Recreio 1º de Agosto Paivense, no Barreiro, aonde treino jovens atletas que iniciam a prática da modalidade. Estou novamente a gostar de iniciar este projecto, pois tenho já atletas valorosos e em número razoável.
MLO – Qual foi o Clube que mais gostou de treinar? E Porque?
FC – Sempre que iniciamos um novo projecto, achamos que o resultado deverá ser melhor do que o anterior. Quando fui convidado para treinar o GDC Conde 2, naquela altura, apenas tinha inscrito 4 atletas. Iniciamos os treinos colocando o nosso cunho pessoal, rodeamo-nos de uma Equipa Técnica e apresentamos um projecto. Foi assim no GDC Conde 2 e o resultado foi maravilhoso. Tive a sorte de ter como colaboradores Técnicos o José Bastos e o Pedro Hipólito (meu amigo de coração), como Seccionistas o Sr. Joel Martins e mais tarde o Sr. Domingos Miguel. Este trabalho foi reconhecido pela FPLA com a entrega do prémio “Treinador do Ano de 2004”.
A Direcção do GDC Conde 2, na pessoa do seu Presidente Sr. Manuel António Moiteira, sempre confiou no meu trabalho e disponibilizou todos os meios para que a Luta Olímpica fosse a modalidade de maior prestígio daquela colectividade e da Freguesia da Quinta do Conde. Sempre tivemos o apoio e receptividade financeira para oferecermos o melhor aos nossos atletas em diversas deslocações que efectuamos e levamos a Lutas Olímpicas da Quinta do Conde além fronteiras, como Sevilha, Granada, Pastrana, Múrcia, Madrid, Barcelona ou Vigo, entre outras. O projecto acabou quando alguns dos atletas abandonaram a modalidade para iniciarem a vida profissional e por outro lado quando deixei de ter uma Equipa Técnica que me auxiliasse na prossecução dos projectos.
MLO – O Grupo Desportivo e Cultural do Conde 2 parece que está no seu coração, pelos Jovens que formou e pelas iniciativas que realizou. O que mais sente falta?
FC – Pergunta embaraçosa... mas seguindo a lei da vida, claro que sinto a falta da vitalidade dos meus 40 anos. Como já o “outro” cantava que o tempo não volta para trás, relembro com saudade a minha força de vontade e espírito de sacrifício para dar os treinos, com dois tapetes montados no ginásio, cheio de atletas (cheguei a participar numa jornada do campeonato regional por equipas de Setúbal com 37 atletas) disputando uma rivalidade saudável com o meu ainda hoje amigo Alberto Covas da União Desportiva e Cultural Banheirense.
Devido ás novas tecnologias, mantenho com quase todos os atletas ainda uma relação estreita de respeito e amizade. E isso dá-me muita satisfação, confesso. É muito gratificante mesmo.
MLO – Muitos dos anteriores Entrevistados referiram, o Torneio Internacional de Sesimbra, como uma competição que gostavam de participar e que sentem saudades. Qual foi o segredo para tal sucesso?
FC – O Torneio Internacional de Sesimbra teve 5 edições, quatro das quais inteiramente da minha responsabilidade, sempre coadjuvado em primeiro lugar pelo GDC Conde 2, com o patrocínio da Câmara Municipal de Sesimbra e a colaboração e apoio da FPLA e pela Associação de Lutas Amadoras de Setúbal. O segredo esteve essencialmente, é claro, em primeiro lugar, pela minha paixão de querer organizar uma competição de alto nível e em segundo lugar, pela vontade expressa de toda a Autarquia Sesimbrense em trazer para o concelho uma organização deste tipo. É de enaltecer o empenho dos dois Presidentes de Câmara que passaram pela organização dos TIS que foram inexcedíveis em nos proporcionarem tudo o que por nós era solicitado.
O TIS estava a tornar-se um torneio de referência e a prová-lo foi a realização da última edição que trouxe a Portugal a representação de atletas de 7 Países Europeus (Espanha, Grécia, Finlândia, França, Áustria, Estónia e Holanda) e alguns deles mesmo de relevante craveira internacional. Havia sempre uma preocupação em cuidar dos detalhes por mais ínfimos que fossem e por isso todos os que nele participaram sentiram algo diferente do que se fazia normalmente nas nossas competições. Com paixão, projecto, estratégia e força de vontade, consegue-se fazer coisas diferentes de agrado da maioria.
MLO – No mês de Novembro de 2010, entregou uma Lista de Candidatura aos Órgãos Sociais da Associação de Lutas Amadoras do Distrito de Setúbal, como Presidente da Direcção. Ganhou por unanimidade, agora o que Setúbal pode esperar de si?
FC – A Associação de Setúbal tinha uma Comissão Administrativa há 18 meses e um pouco impulsionado pelos restantes membros dessa Comissão, propus-me a sufrágio e a lista apresentada foi aceite por todos os clubes. No entanto sempre defendi uma Direcção partilhada, aonde todos os membros tenham voz e tarefas activas. A estratégia foi estudada e projectada. No entanto a implementação está a ser mais difícil do que esperava. Diversas acções já foram realizadas mas aquela que se torna mais urgente é abrir novos pólos de prática da Luta. Curiosamente até temos clubes interessados em abraçar a modalidade, não temos é treinadores disponíveis. Obtivemos resposta positiva de 5 clubes com sede em Almada, Seixal, Sesimbra, Barreiro e Moita mas não temos treinadores com vontade de abraçar um projecto.
Orçamentamos um apoio financeiro a todos os treinadores, para os ajudar e incentivar no desenvolvimento dos projectos, mas com a chegada da “crise” os cortes de dinheiro federativos vão deitar com toda a certeza por água abaixo esta iniciativa. Assim temos que usar a imaginação e perseguir este objectivo. Acho que só com quantidade de atletas, a modalidade progride e por isso é preciso mais clubes para haver competitividade.
MLO – Ao ler o seu Programa Eleitoral, dá-se conta de vários Objectivos e Estratégias, uns mais fáceis de realizar do que outros, mas com o seu lema de “Pior que haver pouco dinheiro, é não haver estratégia para o gastar”, parece que vamos ter grandes novidades ao longo do mandato.
FC – Ideias existem e vamos tentar implementá-las. O facto é que qualquer acção que se pretenda efectuar, necessita de disponibilidade de tempo e meios para os realizar. Isso tem acontecido a custo do esforço voluntário e individual de alguns membros da Direcção. Todas as acções programadas têm sido realizadas com custos abaixo dos valores orçamentados. Temos apostado em demonstrações práticas em algumas Escolas do Distrito e distribuição pelas mesmas de desdobráveis informativos da modalidade.
Como no passado, foram grandes acontecimentos desportivos as competições realizadas em pleno Parque Eduardo VII ou na Praça do Rossio, em Lisboa e como grande surpresa, estamos a preparar, ainda talvez para este ano, um grande encontro de Luta Olímpica por equipas num Centro Comercial da região, num tapete de 12x12, com “Prize-Money” a definir. As autorizações estão conseguidas, os Patrocinadores estão negociados, falta-nos encontrar a data adequada. Irá ser talvez entre Selecções de Lisboa, Setúbal, Algarve e Barcelona ou uma Selecção do “resto do mundo”, pois temos muitos atletas de diversas nacionalidades a representar os nossos clubes. A seu tempo o Mundo da Luta Olímpica será um dos primeiros a tomar conhecimento desta iniciativa.
MLO – Como Profissional Técnico Oficial de Contas, o Orçamento que está ser financiado à Federação Portuguesa de Lutas Amadoras e por consequente para as Associações, está a ser bem empregue? Como o mesmo dava para fazer mais do que está a ser feito ou é o contrário?
FC – Por deformação, o ser humano nunca está contente com o que tem. Acha sempre que é pouco e que se podia fazer melhor. No entanto este é um assunto complicado, atendendo ao facto que os dinheiros distribuídos pela tutela desportiva têm finalidades específicas, nomeadamente a gestão administrativa, a formação, o desenvolvimento da prática desportiva e a alta competição. Os dinheiros tem sido bem aplicados, embora os resultados não tenham sido talvez os desejados. Critica-se que se gastou muito dinheiro em Braga ou no Algarve mas quem assim pensa, terá que entender que enquanto houver clubes e atletas a treinar, a FPLA não pode, nem os deve abandonar.
Na ALADS o orçamento foi feito a pensar na realização de diversos eventos. Se nos derem o dinheiro necessário, todas as acções serão efectuadas, Se isso não acontecer… bom temos que nos adaptar. Não podem é depois julgarem-nos pelos fracos resultados de execução.
MLO – A Luta é um desporto pouco divulgado a nível nacional, porque é que isso acontece?
FC – A Luta Olímpica é um desporto pouco divulgado a nível nacional e também internacional. A própria FILA (Federação Internacional de Lutas Associadas) tem dificuldade em “vender” a luta. A nossa modalidade, pela sua essência tecnicista, nas grandes competições, torna-se pouco espectacular e quem vê televisão gosta de acção e de “sangue”, coisa que e felizmente a nossa modalidade não tem. Por outro lado, no nosso passado-recente, não temos hábitos de guerra ou conflitos, pelo que as nossas mentes não estão preparadas para aceitar o “combate”. Os países com esses tipos de situações, estão a arrecadar as melhores medalhas em grandes competições, como Turquia, Irão ou todas as ex-províncias da União Soviética.
A FPLA tem feito um esforço nos últimos tempos para divulgação da modalidade nos canais televisivos e na imprensa escrita. Pode isso não se traduzir em número de novos atletas, mas serve para desmistificar o conceito de Luta Amadora. Hoje em dia, a maioria das pessoas já viu uma transmissão televisiva do nosso desporto e desse modo retira-lhe aquele conceito de violência e agressividade.
MLO – O que deve melhorar na Luta?
FC – Por razões de evolução sociocultural o jovem de hoje tornou-se muito comodista. A actividade física já não o motiva. Hoje em dia tem muitas mais oportunidades em “gastar” o seu tempo de uma forma muito menos cansativa, recorrendo às novas tecnologias e ao conforto do lar, desenvolvendo assim as suas apetências intelectuais, deixando apenas para alguns o culto do físico.
Por outro lado, as condições de treino nas pequenas Colectividades não os atraem. Devido às dificuldades financeiras e logísticas dos Clubes, os Treinadores, são o amigo, o conselheiro, o confidente, o secretário e até o motorista.
Temos que concordar que a Sociedade de hoje é extremamente exigente e competitiva. O Jovem de hoje não vive uma Cultura Desportiva, porque a sua Escola não tem instalações apropriadas, a carga horária escolar não lhe deixa tempo livre para estudar, para treinar e essencialmente para estar com os amigos.
Portanto acho que em primeiro lugar, deveria efectuar-se um plano e perseguir uma estratégia, por exemplo com a duração de um Ciclo Olímpico. Abrir “Escolas” de Luta com Treinadores semi-profissionais alargando desse modo os horários de treino. Fomentar a prática da modalidade, dando Formação Contínua a Treinadores e a Atletas Jovens Talentos. Proporcionar Estágios Técnicos com Atletas de outros países. Melhorar as organizações das Competições e torná-las atractivas. Efectuar competições só para principiantes e outras para “Atletas de Alta-Competição”.
Sou um autodidacta e estudioso da modalidade, no entanto estou imensamente agradecido á FPLA por me ter proporcionado em 1982 um Estágio Técnico em Roma, (Itália), durante 10 dias, com os melhores Treinadores do Mundo, aonde aprendi técnicas novas e formas inovadoras de ensinamento das Lutas Olímpicas.
MLO – Que acha do projecto do Blog Mundo da Luta Olímpica?
FC – Penso que aquilo que inicialmente começou por ser uma ideia pessoal do João Vítor Costa, para que este expusesse e publicasse o seu “amor” á Luta, mas, rapidamente se tornou num caso sério de Divulgação e Propaganda da Modalidade. Está muito bem construído, atractivo e é uma excelente ferramenta de informação das Lutas Olímpicas. Devem os organismos que geram a modalidade, Federação, Associações e Clubes, reconhecer o trabalho desenvolvido pelo MLO. A ALADS tem o Blog “Mundo da Luta Olímpica” e a Revista Desportiva “O Praticante” como Parceiros e Patrocinadores.
MLO – Partilhe connosco uma história desta modalidade que o tenha marcado.
FC – Os anos dedicados a esta modalidade são tantos que não tenho uma, mas muitas histórias que poderia contar. Prefiro talvez relatar pequenos acontecimentos passados na minha vida na Luta, como as emoções que sentia quando chegava a Vila Nova de Gaia para dar treino e via uns 20 miúdos a correr rua abaixo de contentamento por me verem e acabam por me abraçar; a primeira conquista do atleta Rui Silva no Campeonato Nacional de Cadetes em Greco-Romana, no Liceu Pedro Nunes (último combate de uma longa tarde de uma categoria de peso com 7 atletas, aonde houve emoção e o nervosismo até ao último segundo, com marcação de pontos de vitória em alternância); a participação num Torneio por Equipas em Runa, Torres Vedras, com o GD Mouraria aonde perdemos por um ponto para o Clube Desportivo de Arroios e no regresso a Lisboa, um dos carros que nos transportou, caiu por uma ribanceira abaixo em Loures, aonde fomos os 5 para o hospital apenas com ferimentos ligeiros; lembro o tão desejado e esperado combate entre Liliana Santos e Telma Covas, num Campeonato realizado na Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, e que a minha atleta ao executar uma técnica, cai mal e parte o braço esquerdo; na Cerimónia de encerramento de um Aniversário do GD Mouraria, abandonei o salão, em forma de protesto, depois de discursar, por os meus atletas não terem sido agraciados; numa viagem a Madrid e de regresso a casa uma das carrinhas avariou no meio do caminho. Quando se tinha o Licínio Fortunato por perto, não havia problema: este atleta foi ao saco de treino e com surpresa de todos nós, tira uma mala de ferramentas e remenda a avaria por mais uns 150 km, até parar definitivamente em Évora. Viemos todos de Táxi para casa. A primeira participação da minha filha Inês num Torneio e a vitória que conseguiu, alternando as emoções de Treinador e de Pai orgulhoso. A participação dos atletas Bruno Nogueira e Liliana Santos num torneio em Oslo, Noruega, durante 5 dias, com todos os custos a meu cargo. Aluguei um carro em Oslo e 20 vezes saímos do hotel e 20 vezes nos perdemos.
Enfim, muitas outras peripécias tinha para contar, mas a entrevista já vai longa.
MLO – Que última mensagem gostaria de deixar aos leitores desta entrevista?
FC – Uma das coisas que gosto de fazer é escrever, mas escrever com tempo e sem stress. A altura em que escrevi este texto, não foi a melhor mas procurei dar-me a conhecer e tentar expressar-me em forma de agradecimento a esta modalidade que me ajudou a crescer. Sinto-me feliz em cima do tapete e muito satisfeito quando estou a treinar e a transmitir os meus conhecimentos.
Para terminar, admito que actualmente existe na família da Luta, algum azedume, descrença e desânimo. Só posso dizer de que quem gosta da modalidade tem que continuar a lutar com as suas ideias, com as suas competências e o seu espírito de sacrifício. Não pudemos aspirar a ser profissionais, por isso devemos aproveitar todas as iniciativas e ideias vindas de todos os quadrantes. Não nos podemos é atropelar de uma forma frívola e maldizer a torto e a direito, só para procurarmos protagonismo.
Termino com uma mensagem de esperança: lutar sempre por aquilo que acreditam. Lutem com o coração.
Como diz o slogan: se podia viver sem a Luta Olímpica… podia mas não era de certeza a mesma coisa.
Finalizo com um agradecimento muito sentido de gratidão à minha família que pelo facto desta dedicação pela Luta Olímpica, os privei tantas vezes da minha companhia e de efectuarmos tantas coisas juntos.
Bem hajam!
Obrigado Fernando Carreira pelo tempo disponibilizado e por ter respondido a estas perguntas de um modo aberto e sincero.